Desenhando o invisível, em pixels

Hoje, 2 de julho de 2024, alguns dias após o término do prazo para que brasileiros optassem por não ter seus dados utilizados para o treinamento de IAs, conforme a nova política de privacidade da Meta, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) determinou uma medida preventiva que suspende o uso de dados de usuários para essa finalidade.

A medida estipula um prazo de cinco dias úteis para que essa suspensão seja implementada. A Meta deverá reescrever a seção correspondente de sua política de privacidade e apresentar documentação que comprove a suspensão do uso dos dados para tal finalidade.

Saiba mais nas matérias:

https://nucleo.jor.br/reportagem/2024-07-02-meta-colocou-dados-de-brasileiros-em-risco-para-treinar-ia

https://www.aosfatos.org/bipe/anpd-meta-dados-brasileiros-ia

Uma boa notícia e exemplo de por quê as big techs não querem regulação

Além de uma boa notícia, este é um bom exemplo de como as regulamentações podem beneficiar nossos direitos.

Justamente por isso, o Projeto de Lei nº 2.338/2023 (que tramita com os Projetos de Lei nº 5.051/2019, nº 21/2020 e nº 872/2021) é alvo de manobras para que a proposta legislativa seja atravancada. O Intercept Brasil tem publicado sobre o assunto nas redes (por exemplo, aqui). Uma manobra pouco repercutida nos meus círculos foi a do dia 26/06/2024, quando um despacho desmembrou as discussões sobre IA que tramitavam em conjunto:

A Presidência determina, nos termos do artigo 48, §1º, do Regimento Interno, e em atendimento aos Requerimentos nºs 472 e 473, de 2024, do Senador Chico Rodrigues, o desapensamento dos Projetos de Lei nºs 145 e 146, de 2024, que passarão a tramitar em separado, de forma autônoma, aos Projetos de Lei nºs 5051/2019, 5691/2019, 21/2020, 872/2021, 2338/2023, 3592/2023, 210/2024 e 266/2024.
Os Projetos de Lei nºs 5051/2019, 5691/2019, 21/2020, 872/2021, 2338/2023, 3592/2023, 210/2024 e 266/2024 continuam a tramitar em conjunto e retornam à Comissão Temporária Interna sobre Inteligência Artificial no Brasil (CTIA) para prosseguimento da tramitação

Tenho desde então acompanhado as audiências públicas promovidas pela Comissão Temporária Interna sobre Inteligência Artificial no Brasil (CTIA) como parte das atividades da UNIDAD – União Democrática de Artistas Digitais.

Na primeira audiência, sobraram lobistas disfarçados – representantes da Meta e de organizações que têm como associadas iFood, IBM, Microsoft, Amazon e Google cadastrados com filiações diferentes das que realmente se aplicam aos seus cargos atuais.

Na audiência pública de hoje (02/07), os convidados incluíram representantes do Observatório Nacional de Cibersegurança, a Universidade Federal de Minas Gerais, Repórteres sem Fronteiras, Transparência Brasil, Coalizão Direitos na Rede, Federação das Associações das Empresas Brasileiras de TI, USP, CUT Nacional, e Conexis Brasil Digital.

Resumindo extremamente, as entidades e grupos que defendem direitos da sociedade civil vêem a proposta legislativa atual com bons olhos (no mínimo, com menos críticas, pois pontos sensíveis como a permissão de armas autônomas foram contempladas com emendas que as proíbem). Já os demais atores indicam que a regulamentação é desnecessária, pesada demais, e potencialmente prejudicial para a inovação tecnológica no país.

Vale lembrar que a direita afirma que PL 2.338/23 poderia permitir censura nas redes sociais, pois os algoritmos das plataformas contêm inteligência artificial.

Próxima Audiência:

Quarta, 03/07/24: Uso, supervisão e fiscalização da Inteligência Artificial (PL 2338/2023)

A Meta lançou na quinta-feira passada (23/05/24) a sua mais recente Política de Privacidade, atualizando seus Termos de Serviços. Esta nova política estará valendo a partir de 26 de junho de 2024.

Nos novos Termos, de forma mais clara do que antes, ficamos sabendo que qualquer conteúdo publicado (publicamente) nas redes da empresa (Instagram, Facebook, Threads) podem ser usados para o treinamento de IAs generativas da Meta. Ou seja, nossas fotos, vídeos, legendas, texto das publicações, comentários e outros dados gerados pelo usuário são usados como recurso para treinar ou aprimorar os sistemas generativos de IA da empresa.

A empresa usar nossos dados pra treinar IAs, na verdade, não é novidade. Em setembro do ano passado, alguns portais de notícias e tecnologia já mencionavam que era possível recusar o uso dos seus dados pessoais para treinamento de IAs no formulário “Direitos do titular dos dados de IA generativa“, mas só os dados que estivessem presentes em materiais de terceiros. Na época, a Meta admitiu publicamente que usou conteúdos públicos do Facebook e do Instagram para treinar seu novo assistente virtual, o chatbot Meta AI. Mas seja nesta ocasião ou agora, as fontes para treinar modelos de IA da empresa vem também “incluem informações disponíveis publicamente e dados licenciados na internet”.

Em fevereiro deste ano, o Zuckerberg declarou publicamente sua satisfação em saber que as redes de sua empresa reúnem centenas de bilhões de imagens compartilhadas publicamente e dezenas de bilhões de vídeos públicos, além de um grande número de postagens de texto e comentários públicos em seus serviços. Isso supera, segundo estimativas, o dataset Common Crawl, banco de dados aberto utilizado para treinar grandes modelos de linguagem. Ou seja, uma mina de ouro em termos de dados.

Por que o uso dos nossos dados é um problema?

Para artistas visuais e demais criadores de conteúdo, é um pouco óbvio: nossa produção está sujeita a ser plagiada e canibalizada por uma tecnologia ainda insuficientemente compreendida e discutida. Para a comunidade artística como um todo isso é mais do que uma discussão hipotética: o uso de IA generativa está roubando empregos e oportunidades de trabalho em vários setores do mercado.

Há pouco tempo, três outras plataformas amplamente utilizadas – o Artstation, deviantART permitiram que o conteúdo protegido por direitos autorais postado por usuários em seus portfólios fosse usado para o treinamento de para o OpenAI, Stability, and Midjourney (outra referência aqui). Existe um processo em andamento sobre a violação dos direitos e apropriação indébita de milhares de milhões de imagens para treino de IA. Desta disputa, emerge a síntese que você pode já ter visto por aí:

Esta mudança de política de uso de dados é um lembrete de que precisamos estar vigilantes sobre os termos de condições das plataformas onde nosso trabalho está hospedado. Que nossa atividade pra se conectar com outras pessoas pode ser retorcida em produtos que mal podemos prever ou antecipar.

E isso é um problema só para artistas?

Gosto de reforçar que esta não é nem deveria ser uma questão exclusiva para quem vive de conteúdo intelectual protegido.

Você se sente confortável sabendo que uma postagem sobre seu sobrinho fazendo aniversário pode ser referência para um texto gerado por IA, interagindo com outras pessoas no futuro? Ou que vai ser cada vez mais difícil diferenciar se uma interação nas redes foi escrita por humano ou por uma IA?

De todo modo, o nosso direito à privacidade dos dados pessoais e ao consentimento está sob ameaça. Nós podemos até discordar que as redes usem nossas informações como quiserem, mas é extremamente difícil garantir isso: estar presente nas redes já implica em concordar com os Termos de Uso. Não existe a opção “concordar em partes”. E na prática, assim que os termos atuais estiverem vigentes, você está autorizando que suas postagens sejam usadas para o treinamento de IAs. Quer discordar? Exclua sua conta. Não há meio-termo.

Em abril de 24, com o lançamento oficial da IA da meta em alguns países, e exigências da justiça norte americana devido à eleição presidencial que se aproxima, o assunto voltou à tona. Mas muito antes disso, infelizmente, nós concordamos (involuntariamente) com o uso quase irrestrito de nossas postagens (vide o slide 37no link).

Atualmente, os novos Termos de Serviço da Meta dizem:

3. As permissões que você nos concede

Especificamente, quando você compartilha, publica ou carrega conteúdo protegido por direitos de propriedade intelectual nos nossos Produtos ou a eles relacionados, você nos concede uma licença não exclusiva, transferível, sublicenciável, isenta de royalties e válida mundialmente para hospedar, usar, distribuir, modificar, veicular, copiar, reproduzir publicamente ou exibir e traduzir seu conteúdo, assim como criar trabalhos derivados dele, (de modo consistente com suas configurações de privacidade e do aplicativo). Isso significa, por exemplo, que se você compartilhar uma foto no Facebook, você nos dará permissão para armazenar, copiar e compartilhar a foto com outras pessoas (novamente, em conformidade com suas configurações), como os Produtos da Meta ou provedores de serviços que oferecem suporte a tais produtos e serviços. Quando seu conteúdo é excluído dos nossos sistemas, essa licença é encerrada.

Alvoroço nas redes

Diante do anúncio dos novos Termos de Uso, a comunidade artística internacional está se mobilizando para alertar as pessoas e procurando meios de proteger sua produção.

Esta postagem do Kostas K resume meus sentimentos:

O que mudou agora?

Os termos atualizados deixam claro que nossas postagens públicas podem ser usadas para treinar IAs. Antes, só reforçando, os termos eram vagos e só deixavam claro a permissão dada aos serviços de terceiros (A Licença IP que está vigente atualmente não esclarece os usos acima). Agora também podemos, teoricamente, optar por negar o uso das nossas publicações – num formulário obscuro difícil de encontrar, e burocrático pra preencher – que protege apenas as postagens feitas após a solicitação de bloqueio.

Lembrando também, que em setembro de 2023, já haviam notícias sobre o uso da Meta quanto a usar postagens públicas do Facebook e Instagram para treinar seu novo assistente de IA, como mencionado acima.

A pergunta que fica é a seguinte:

Adianta apagar minhas postagens antigas para proteger meu conteúdo?

Os termos de uso atuais deixam alguma margem para entender que sim, pois teoricamente a tal “Licença IP” (válida atualmente, em 01 de junho de 2024) se encerra a partir do momento que vc apaga o conteúdo. Mas:

Quando você exclui um conteúdo IP, ele é removido de maneira similar ao esvaziamento da lixeira do computador. No entanto, entenda que o conteúdo removido pode permanecer em cópias de backup por um período razoável (mas não estará disponível para outros).

*conteúdo IP, no documento, se refere a imagens e vídeos.

Na atualização, eles seguem afirmando que a Licença que cedemos à Meta se encerra a partir da exclusão do nosso conteúdo ou conta, mas que os nossos dados ficam ainda armazenados por 90 dias após a exclusão.

Por outro lado, nossos dados públicos estão sendo usados no mínimo há pelo menos 9 meses para fins de treinamento de IA. Me parece pouco provável que a esta altura, adiante excluir publicações antigas – elas podem já ter sido usadas sem nossa permissão (e ciência).

ARTISTAS

O que podemos fazer, em nível individual?

Antes de mais nada, recuse o uso dos seus dados para treinar IAs: preencha o formulário Oposição quanto ao uso das suas informações para a IA na Meta

  • Em “Conte-nos como esse processamento afeta você.”, você pode mencionar que isto viola a sua privacidade e os seus direitos como utilizador, e citar como argumento a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
  • Ou ainda, escrever simplesmente como orienta a Nina: “tenho direitos autorais sobre todas as publicações no meu perfil, portanto, não autorizo a empresa Meta ou qualquer outra que as utilizem” (comigo funcionou)

Edite suas imagens ANTES DE PUBLICAR online, com o Glaze ou com o Nightshade. Estes softwares adicionam ruído digital ou prejudicam a leitura das imagens por IAs, o que impede que elas sejam usadas para o treinamento de ferramentas generativas.

Boicote a Meta: Segunda-feira, dia 03 de junho de 2024, artistas ao redor do mundo estão combinando um boicote às redes da Meta (que consiste em não acessar nenhum de seus serviços – Threads, Instagram, Facebook, Whatsapp) por 24h.

Mude-se para outra rede social: Também estamos vendo um movimento de artistas e criadores para migrar para a rede Cara – uma plataforma de portfólio e rede social para artistas, que promete proteção à propriedade intelectual e se manter livre de arte gerada por IA. Por enquanto, a plataforma é instável e cheia de erros. E já vimos este tipo de movimento antes, com o Twitter.

Adicione um selo “Feito por Humano”: fica claro para humanos que sua imagem/texto não foi criada por IA: (baixe aqui)

Medidas individuais são quase inócuas

Mas isso é muito pouco, na minha opinião. Não me interessa proteger apenas a minha prioridade intelectual.

Eu quero ver as redes sendo reguladas. Quero garantias de que a privacidade de dados de todos é respeitada.

Precisamos de menos IAs nas redes, antes que a internet vire um grande cemitério de mentes humanas.

Vale lembrar que só estamos vendo este alvoroço em relação ao uso abusivo de nossos dados nas redes da Meta graças à GDPR (General Data Protection Regulation) europeia.

Como assim? A GDPR do Reino Unido e União Europeia obriga as redes sociais a informarem seus usuários sobre a coleta e uso de seus dados. Então, usuários do Instagram/Facebook/Threads destas regiões passaram a receber emails com os detalhes da atualização da política de privacidade e receberam a opção de exclusão, em conformidade com a GDPR. Ou seja, o assunto só veio a público de forma menos ambígua graças à uma Política Pública mediada por instâncias governamentais. É por isso que é tão crucial que as Redes Sociais estejam sujeitas a regulamentação dos Estados.

Em tempo: as leis brasileiras da LGPD também nos protegem, e o formulário de objeção do uso de nossos dados para treinamento de IA está disponível para o Brasil justamente por isso. Só temos acesso ao formulário obscuro por isso. Leia o trecho abaixo, da notícia “Como a Meta está desenvolvendo a Inteligência Artificial para o Brasil” nos materiais de imprensa:

Com base nas leis locais do Brasil, você poderá se opor ao uso de suas informações de nossos produtos e serviços para desenvolver e melhorar a inteligência artificial da Meta. O formulário de objeção pode ser encontrado na nossa Central de Privacidade. Essa abordagem é consistente com a nossa atuação e com a forma como outras empresas de tecnologia estão desenvolvendo e melhorando as suas experiências de IA.

Referências

Leia também:

“Marco Legal da Inteligência Artificial” – Projeto de Lei n° 2338, de 2023

As imagens disponibilizadas aqui foram geradas em outubro de 2023 via Dall.e 3.

Elas foram criadas pensando em dar um destino ético para imagens produzidas, em sua origem, a partir de peças de artistas que não consentiram com sua utilização para o treinamento dos modelos de linguagem.

Pretende-se criar aqui uma pequena biblioteca de PNGs (fundo transparente) de cientistas de pele escura, para uso livre.

Inicialmente, vou subir mais imagens “caricatas” de cientista, usando jaleco e trajes formais, mas com o tempo pretendo expandir o acervo para outras representações.

Também estou estudando como escrever prompts para gerar imagens de PcDs e pessoas mais velhas, ou simplesmente com variedade de corpos e traços faciais.

Use essas figuras para povoar o imaginário das redes com pessoas de cor ocupando o papel de cientistas e profissionais da saúde!

Se quiser contribuir com a artista, faça um pix (OPCIONAL)

 
chave pix:
pix@clorofreela.com
 

Oi! Hoje eu vim contar como me tornei ilustradora científica. 

Resumo das redes

Pra quem não sabe, eu sou bacharel e licenciada em ciências biológicas. Apesar eventualmente alguém achar que sou ‘de humanas’, na verdade sou mestre em biologia celular e doutora em biologia tecidual. Ou seja, sou cientista e pesquisadora, tenho vários artigos publicados e até alguns livros e capítulos técnicos!

Comecei a desenhar de verdade com 23 anos. Eu estava no final do mestrado e comecei a estudar desenho para descansar minha cabeça da pesquisa no pouco tempo livre que tinha. Comecei a postar esses estudos todos os dias no Facebook, e o incentivo das pessoas me ajudava a continuar.  Aí, um belo dia, uma doutoranda do meu grupo encomendou comigo um desenho pra usar num artigo científico. E outro. E mais um. Eu comecei a pensar seriamente em me tornar ilustradora científica quando terminasse a pós.

Mas comecei a procurar cursos aqui no Brasil, e nenhum deles era na minha área de especialização (biologia estrutural). Pensei em desistir por um tempo, voltei para a bancada (desta vez, na indústria). Percebi que o que eu realmente queria fazer era trabalhar com artes visuais, nem que tivesse que abandonar a carreira acadêmica de vez e recomeçar como desenhista generalista. 

Foi aí que tive a oportunidade de começar meu projeto de doutorado, que envolveria ampliar um material didático para a graduação em medicina. E, nesse material, eu poderia criar animações e ilustrações de embriologia humana. A partir desse momento, passei a criar artes científicas na maior parte do meu tempo! Comecei a conseguir cada vez mais trabalhos e indicações, e quando terminei o doutorado, comecei a viver exclusivamente de arte. Mas eu não vivo só de ilustração científica! Isso é assunto pros próximos capítulos..

Daqui em diante, trago trechos do memorial que inscrevi num concurso público docente, no final de 2022. Suprimi algumas partes que eram apenas citação de trabalhos/currículo, e destaquei em vermelho-queimado as partes que se referem à ilustração.

Deixei também alguns atalhos pra quem quiser saber mais sobre os projetos citados no texto!

Desenhando outro caminho

Foto: Eu posando ao lado do meu pôster no III Workshop on Male Reproduction (2011)

Embora eu tenha concluído a graduação com bastante convicção a respeito de que minha carreira seria dedicada à pesquisa e ao ensino em nível superior, houveram esboços em outra direção ao longo dessa trajetória. Em retrospecto, vejo que a exaustão ao final do mestrado foram acompanhados pelo declínio do investimento federal em ciência e pesquisa, que já começaram a ser sentidos de forma sutil e crescente na época – com a redução na abertura de concursos de nível superior, uma maior dificuldade em obtenção de bolsas de pesquisa e aprovação de projetos temáticos no meu grupo – e a noção de que eu precisaria ser ainda mais produtiva, dedicada e excelente, caso quisesse ter uma chance de realizar meus projetos profissionais na pesquisa experimental. Cabe lembrar que – conforme deliberadamente destacado ao longo desta narrativa – eu era muito jovem ao terminar o mestrado, em julho de 2014.

Somadas a este contexto, havia também minha aptidão para a arte. Antes de prestar vestibular, eu havia cogitado buscar uma formação profissional que me permitisse trabalhar com ilustração e edição de imagens, mas na época ( 2007) essa carreira não parecia muito plausível fora do eixo Rio-São Paulo. Além disso, não há no Brasil um curso universitário para formação acadêmica de ilustradores e ilustradores profissionais frequentemente optam por outra formação correlata, como Design Gráfico, Artes Visuais ou Arquitetura. Na época, a empregabilidade e possibilidades de atuação me pareciam muito incertas e disformes, e eu tinha a necessidade financeira de uma carreira mais concreta. 

Mas ao mesmo tempo, durante a graduação eu sempre “esbarrava” no fazer artístico e na comunicação visual. Assim, fui responsável por elaborar diversas artes para camisetas, websites, congressos e encontros, festas universitárias, convites e outras peças gráficas.

Entre 2011 e 2012, participei, juntamente à um grupo de graduandos de Engenharia de Alimentos do IBILCE/UNESP, de um projeto chamado Battle of Concepts Brasil, cuja proposta era promover editais desafiando jovens talentos a oferecerem soluções para empresas privadas. Minha equipe foi premiada em três editais e esta breve vivência me apresentou ao Design e suas metodologias. Concomitantemente, fui convidada a participar de um canal de Youtube (já desativado) de divulgação científica informativo para pessoas com doença falciforme, em parceria com pesquisadores do Laboratório de Hemoglobinas e Genética de Doenças Hematológicas do IBILCE/UNESP .

Conforme eu percebia que meu conhecimento formal se especializava, eu senti a necessidade dedicar tempo a outras atividades mais subjetivas.

Foi assim que, em 2013, iniciei uma jornada de um ano estudando desenho, de forma amadora e autodidata; inicialmente, em mídias analógicas (grafite, lápis de cor, tintas escolares a que eu tinha acesso no interior de São Paulo), e depois de um tempo, em mídias digitais (fui presenteada com uma mesa digitalizadora, o que expandiu enormemente minhas possibilidades). E a partir da divulgação eventual desses estudos em redes sociais, comecei a receber convites para montar figuras para monografias e artigos científicos de estudantes do meu grupo de pesquisa:

Nota: alguns deles, como quase sempre acontece, foram aceitos e oficialmente publicados anos depois de eu ter feito as artes.

Printscreen do álbum do facebook com os estudos de uma quinzena de fevereiro de 2013

Foi nesta época que surgiu minha inquietação com a falta de cursos profissionalizantes para ilustradores científicos no país . Além disso, havia o incômodo com o fato de os poucos cursos que existiam serem dedicados à ilustração botânica e zoológica, especializados em técnicas analógicas de pintura e desenho (grafite, nanquim e aquarela), o que definitivamente não era o que eu estava sendo procurada para produzir. Uma das razões pelas quais eu recebi meus primeiros contatos era, justamente, o fato de eu entregar figuras digitais vetoriais, o que era uma exigência de diversos periódicos na época. 

Ao final do meu mestrado, a única alternativa que eu enxergava – caso quisesse seguir uma carreira na área de ilustração científica – era cursar mais um mestrado, desta vez no exterior. Haviam algumas instituições que ofereciam exatamente o curso de formação que eu buscava. Porém, novamente, o programa Ciências sem Fronteiras da Capes e CNPq estava em vias de ser descontinuado, as bolsas de agências de fomento estavam escassas, e eu não achava que tinha talento ou experiência o suficiente para pleitear um auxílio estrangeiro. Ainda assim, eu sentia que poderia me profissionalizar se tivesse acesso a escolas especializadas em ilustração e pintura. Foi então que decidi me mudar definitivamente para Campinas (SP) e me desligar da pesquisa experimental.

Alguns traços fora da linha

Entre a metade de 2014, quando obtive o título de mestre em Biologia Celular, e agosto de 2016, quando ingressei no doutorado em Biologia Tecidual, minha experiência profissional não se desviou tanto da rota quanto inicialmente imaginado.

Pouco depois da defesa, fui contratada como técnica de histologia em uma empresa chamada Bioactive Tecnologia em Polímeros, em Indaiatuba (SP) [2.3]. Inicialmente, minha função era estabelecer os procedimentos de preparação e coloração histológica para tecido ósseo, e retomar análises morfométricas de materiais obtidos num estudo interno da empresa. Ao finalizar o período probatório, fui prontamente promovida a Pesquisadora em Histologia. Respondendo pelo departamento de Pesquisa e Desenvolvimento, elaborei instruções de trabalho e procedimentos operacionais do Laboratório de Histologia, e delineei um estudo pré-clínico para testar a segurança de biomateriais para implantes ósseos. Percebendo que estava sendo absorvida para o mesmo tipo de demandas das quais eu havia acabado de deixar, e sem tempo de estudar ilustração, em 2015, me desliguei da empresa.

No mesmo ano, iniciei um curso anual de Desenho na Quanta Academia de Artes, em São Paulo (SP). Mantive alguns trabalhos temporários para viabilizar a empreitada. Por alguns meses, procurei focar meus estudos de ilustração dentro da temática de zoologia e botânica. Passei a frequentar a Biblioteca Pública Municipal Prof. Ernesto Manuel Zink, e, um dia, Suze Elias, uma das bibliotecárias, descobriu que eu estava tentando ser ilustradora. Entusiasmada com meus estudos, ela promoveu uma exposição para exibi-los, intitulada Animalia – ilustrações naturalistas e científicas. No último dia da instalação, recebemos uma turma do Ensino Fundamental da rede municipal de Campinas para uma roda de conversa sobre ilustração científica e atividades de desenho. 

Foi nesta época que tomei conhecimento do trabalho no preparo de materiais de ensino em embriologia do prof. Dr. Luis Antônio Violin Dias Pereira, do Departamento de Bioquímica e Biologia Tecidual (DBBT), no IB/UNICAMP. Seu e-book Embriologia humana integrada: Animações e Casos Clínicos havia sido recém-publicado e, até então, abordava o desenvolvimento embrionário até a 8a semana de gestação. Além disso, ele orientava e pesquisava sobre estratégias e métodos de ensino na graduação. Entrei em contato com o prof. Violin no final do ano de 2015, que gentilmente permitiu que eu conhecesse sua linha de pesquisa e seu material didático mais de perto. Iniciei um trabalho técnico de melhorias no citado e-book, em que se fez necessário iniciar um curso de Animação em Adobe Animate CC 2015.2 na Escola Pró-Arte – Cursos Técnicos e Profissionalizantes. Por generosidade do Prof. Dr. Sérgio Antônio da Silva Leite, professor (atualmente aposentado) da Faculdade de Educação da Unicamp (FE) e então coordenador do (EA)² – Espaço de Ensino e Aprendizagem -, órgão ligado à pró-reitoria de Graduação da Unicamp, fui admitida no curso Planejamento das Condições de Ensino, dedicado a conceituar Ensino e Aprendizagem, objetivos de ensino e outras questões do planejamento de ensino universitário. Neste espaço formativo, veio a oportunidade de ingressar no projeto Blogs de Ciências da Unicamp, como ilustradora e designer, papel que será retomado adiante

Desta forma, este conjunto de encaminhamentos me deu condições para iniciar minha atuação como pesquisadora em educação e divulgadora de ciências, em estreito contato com a comunicação visual.

Meu ingresso no Laboratório de Tecnologia Instrucional em Embriologia e Biologia Tecidual (LTI-EBT) também resultou em uma oportunidade inesperada e extremamente importante para meu amadurecimento e profissionalização enquanto ilustradora e designer: o convite para co-autorar uma coluna bimestral sobre Biologia Óssea que o prof. Luis Violin mantinha no ImplantNewsPerio International Journal, um periódico dedicado a Implantodontia, Periodontia e Próteses Dentárias. Sendo ele um importante conferencista e pesquisador na área de biologia tecidual aplicada a implantodontia, e com minha breve experiência de pesquisa na área, iniciamos o desenvolvimento de uma série de 20 artigos ilustrados sobre a temática, entre 2017 e 2020.

Educacional

Embriologia Humana Essencial

Figuras produzidas para publicação de livro didático de embriologia humana para cursos de graduação em saúde, no qual sou co-autora:

Além da contribuição com o conteúdo textual, produzi um infográfico ou ilustração para cada edição; para a boa execução desta atividade foi necessário que eu complementasse a minha formação com cursos livres de design, infografia e editoração.

Nota:  Em 2020, a revista atualizou seu título para Implant News – Reabilitação Oral de A a Z.

Arte, ilustrações e divulgação científica

Uma parte importante da minha trajetória tem relação com a produção artística. É difícil dissociar o meu papel enquanto ilustradora de ciências da minha expressão criativa como um todo. E nos últimos seis ou sete anos, esta faceta recebeu projeção pública em alguns momentos. Abandonarei um pouco a ordem cronológica, para este (não tão) breve relato. 

Em março de 2018, fui convidada a expor uma coletânea de ilustrações de autoras mulheres na mostra #Inktober – Mulheres Ilustradas na Biblioteca Pública Municipal Prof. Ernesto Manuel Zink [3.1]. Em julho do mesmo ano, contribui para a exposição coletiva Hilda Hilst, no mesmo local [3.1]. Estas e outras produções me levaram a ser convidada a elaborar capas e ilustrações internas de livros para autores nacionais de literatura contemporânea. Assim, em 2018 iniciei a produção de um livro infantil ilustrado, que infelizmente foi interrompido no início de 2019, devido ao tratamento citado acima, e segue sem conclusão. Em 2019, ilustrei a capa do livro Epílogo, de Victor Allenspach [3.1], em 2021 fiz a capa e ilustrações internas do livro Bem ditas Cartas [3.1] – de Jaya Magalhães e Maria Midlej; as ilustrações internas e capa do livro de contos  Tudo Junto, Separado, e Poesia de outros dias, ambos de Thais Steimbach [3.1].

Capas literárias

Poesia de Outros Dias

Projeto de capa, lombada e contracapa para o Livro da autora Thais Steimbach.

No dia das mulheres, em 2020, mediei um Bate-papo sobre a coletânea das Escritoras Ilustradas no SESC de Birigui (SP) [2.6] – cidade em que meus pais residem e na qual vivi minha infância e adolescência. Cinco dias depois, todas as atividades presenciais foram suspensas na Unicamp devido à pandemia da COVID-19. E, em uma semana, graças à rápida mobilização da equipe editorial do projeto Blogs Unicamp, levei ao ar a edição especial chamada ESPECIAL COVID-19. Este especial integrou parte da comunicação científica da Força-Tarefa contra a COVID-19 da universidade, e foi o primeiro hotsite vinculado a instituição de ensino sobre o tema a ser tornado público.

Blogs Unicamp

Retomo aqui, portanto, minha história com o projeto Blogs de Ciência da Unicamp, iniciada em paralelo com o desenvolvimento da minha tese de doutorado, e que teve uma importância tão grande (ou maior) do que esta no meu amadurecimento profissional.

Blogs de ciências

Blogs em números

Este infográfico apresenta alguns dados coletados até o momento sobre o Projeto de Blogs de Ciências da Unicamp. Foi desenhado no Procreate e editado no

O projeto Blogs Unicamp foi inaugurado em 2015 e desde então produz conteúdo aberto para aproximar a sociedade do conhecimento científico produzido pela Unicamp. Sua atuação é feita por meio de textos – publicados em sua revista eletrônica –, conteúdo para redes sociais, e promoção de cursos e treinamentos voltadas para pesquisadores, funcionários e estudantes da Unicamp. Eu passei a compor a equipe de voluntários do Blogs Unicamp em 2016, com a intenção de desenvolver figuras e infográficos para os criadores de conteúdo. O então coordenador do projeto, Dr. André de Oliveira Garcia, me incumbiu de aprender sobre licenças de uso do tipo Creative Commons; assim, desde maio de 2016 tenho lecionado sobre Imagens e Direitos Autorais nas ações formativas do projeto. Também participei, por um tempo, de um blog da rede (atualmente descontinuado) voltado à aplicação da tecnologia na educação – onde produzi, por exemplo, o infográfico bê-á-bá do e-learning. Posteriormente, criei o blog Colorindo a Ciência (Colora-ci), onde iniciei uma série de postagens sobre ilustração e visualização científica.

Fui convocada também para elaborar a identidade visual do projeto, em 2016 (o que fiz de maneira bastante amadora). Gradativamente, devido a minhas experiências com webdesign e similares no trabalho com os e-books, passei a ampliar minha atuação e oferecer suporte com o sistema de gerenciamento utilizado pelo projeto, o WordPress. Junto à equipe administrativa, passamos a esboçar uma produção teórica sobre divulgação científica e sobre a própria iniciativa – da qual destaco, por exemplo, o resumo expandido Blogs de Ciência da Unicamp: divulgação científica por docentes e pesquisadores, publicado no v.4 da Revista do EDICC (Encontro de Divulgação de Ciência e Cultura) [2.1]. 

Com o passar dos anos, após a Profª. Drª. Ana de Medeiros Arnt assumir a coordenação científica do portal, me tornei a Coordenadora de Artes do projeto [2.3]. Também levei ao ar, editei e criei identidades visuais próprias para todas as edições especiais da revista eletrônica: Protagonismo Feminino (2018), Ciência e Política (2018 e 2022), Ciência e Cultura Pop (2019), o já citado Especial Covid-19 (2020) – no caso da primeira, o hotsite e editoração foi desenvolvido por André Garcia. Fui integrada à Comissão Editorial da revista eletrônica Blogs de Ciência da Unicamp, ISSN 2526-6187. Em 2020, ao incorporar o coletivo Science Blogs Brasil, o projeto se tornou o maior portal de divulgação científica escrito do país. 

Com a consolidação do projeto e crescimento da sua projeção e impacto, formamos o Grupo de Pesquisa Cultura, Educação e Divulgação Científicas (CEDiCiências), coordenado pela pesquisadora Ana Arnt [2.3]. Dentre as publicações co-autoradas com o CEDiCiências, destaco a A voz do cientista na política através da divulgação científica: um relato da experiência com o especial ‘Ciência e Política’ no Blogs de Ciência da Unicamp, em 2020 [2.1].

No início do ano de 2020, também aprovamos um projeto na linha de pesquisa Programas de Inovação Tecnológica / CPE – Centros de Pesquisa em Engenharia – Fluxo Contínuo na FAPESP, processo número 2019/11353-8, sob coordenação do Prof.Dr. Lauro Tatsuo Kubota, do Instituto de Química da Unicamp. O projeto, nomeado Centro brasileiro de pesquisa em água (BWRC), foi cancelado em 2022 por questões burocráticas entre a parceria Unicamp e Sanasa. Todavia, enquanto ainda estava vigente, desenvolvi o projeto de design gráfico do site e identidade visual do referido Centro e participei da elaboração do Plano de Comunicação, junto à coordenação do Blogs Unicamp, como integrante do setor de Difusão Científica e responsável pela elaboração de todo o plano de comunicação do projeto.

Em 2021, tivemos a aprovação do projeto Blogs de ciência da UNICAMP: reestruturação da rede, revista e projeto, que prevê a reestruturação de todo o portal da rede Blogs Unicamp – a qual estive encabeçando, incluindo a revista eletrônica, no 1º. Edital – PROEC PEX 2021, em tempos de Covid-19. Cabe destacar que este tipo de financiamento foi uma importante valorização de um trabalho que, até então, tinha sido feito voluntariamente e sem remuneração.

Blogs de ciências

Portal Blogs Unicamp

O projeto Blogs Unicamp reúne blogs de divulgação científica mantidos por pesquisadores, professores e alunos de pós-graduação vinculados à UNICAMP. Atuo como voluntária no projeto desde 2016, tendo feito parte da Equipe Administrativa até maio de 2022.

BWRC

WEBDESIGN ou ver tudo Projeto – Layout – Identidade visual– Implementação inaugural BWRC Brazilian Water Research Center (BWRC ) O Brazilian Water Research Center (BWRC

 Retomando a questão da pandemia de COVID-19, em seu decurso eu passei a colaborar com maior frequência junto à equipe de Comunicação na elaboração de peças para redes sociais. Integramos o coletivo Todos Pelas Vacinas. Este trabalho resultou (entre outras coisas) em uma campanha, lançada em 21/01/2021, com conteúdo exclusivo, participação de artistas, celebridades e personalidades de movimentos socioculturais brasileiros e, também, inserção internacional a partir da campanha veiculada no carnaval de 2021 pela ONU internacional. Ao final de 2021, o projeto Todos Pelas Vacinas também foi homenageado no prêmio Tiktok Awards 2021 pelo combate à desinformação de COVID-19 em redes sociais. Ao mesmo tempo, por quinze meses consecutivos, o Especial COVID-19 apresentou semanalmente conteúdos novos sobre a situação da pandemia no mundo, em várias áreas do conhecimento – com os quais colaborei regularmente, seja ilustrando editoriais, seja supervisionando a produção de infográficos [x] e, também, escrevendo em co-autoria alguns textos [3.3]. Esta produção foi reelaborada e consolidada com a publicação do livro Linha de Fundo: um giro de divulgação científica sobre a COVID-19 no blogs Unicamp.

O livro Linha de Fundo é um marco importante na minha trajetória profissional, pois foi um produto um tanto ambicioso de design editorial: disponibilizamos as publicações realizadas entre 03/2020 e 04/2021, (totalmente atualizadas e revisadas com notas dos editores) como um resgate desse período histórico no Brasil, em formato de e-book e também de hotsite gratuito, que eu desenvolvi. Conduzi a apresentação do período numa linha do tempo que traz o contexto epidemiológico brasileiro no momento em que os textos foram escritos. A maioria dos capítulos recebeu ilustrações inéditas, baseadas nas figuras que acompanhavam originalmente as postagens – como uma forma alternativa de registro desses dados. Parte deste trabalho foi financiado por um edital FAEPEX: Apoio emergencial para o desenvolvimento de projetos de pesquisa competitiva e pesquisa aplicada no contexto da COVID-19.

Ainda sobre o livro Linha de Fundo, destaco que além das artes e edições ao longo do livro, atualizando o conteúdo e reformulando (ou elaborando) as artes que compunham os textos, também fui autora dos capítulos:

  1. COSTA, C. Linha do tempo In: Linha de Fundo : um giro de divulgação científica sobre a COVID-19 no blogs Unicamp, 2021,  v.1, p. 14-17.
  2. ARNT, A.M.; OLIVEIRA, G.A.; CARNEIRO, E.M.M.; NICHI, J.; SANTOS, J.F.T.S.; BONORA JUNIOR, M. e COSTA, C.F.P. Vacinas: uma ação de Saúde Pública. In: ARNT, A. M.; COSTA, C.; CARNEIRO, E.M.M.; BONORA JUNIOR, M.; NICHI, J. (Org.). Linha de fundo : um giro de divulgação científica sobre a COVID-19 no blogs Unicamp. 1ed.Campinas: Blogs de Ciências Unicamp, 2021, v. 1, p. 222-228
  3. ARNT, A.M.; OLIVEIRA, G.A.; CARNEIRO, E.M.M.; NICHI, J.; SANTOS, J.F.T.S.; BONORA JUNIOR, M. e COSTA, C.F.P. Não é um número. In: ARNT, A. M.; COSTA, C.; CARNEIRO, E.M.M.; BONORA JUNIOR, M.; NICHI, J. (Org.). Linha de fundo : um giro de divulgação científica sobre a COVID-19 no blogs Unicamp. 1ed.Campinas: Blogs de Ciências Unicamp, 2021, v. 1, p.302.

Ainda vinculado à divulgação científica no Blogs Unicamp, durante a Covid-19, algumas das peças e infográficos elaborados para o hotsite também foram adaptados – ou desenvolvidos com exclusividade para redes sociais do projeto, em especial o perfil do Instagram [3.3]. Além disso, também já participei da produção de arte para editoriais e textos específicos de outros blogs, em especial aqueles que necessitavam de artes que apontassem de forma sensível, temas polêmicos e/ou delicados – como, por exemplo, este texto da Profa. Ana Arnt sobre a Cultura do Estupro

Telas do ebook "Linha de Fundo: um giro de dibulgação científica no Blogs Unicamp". Texto na imagem: "online e gratuito"
Ciências

E-book: Linha de Fundo

Publicação que consolida o trabalho de divulgação científica do Blogs de Ciência da Unicamp no primeiro ano de pandemia de Covid-19. Além da co-autoria, fui responsável pela

Campanha: Vacina no grau

Arte e links da campanha “Vacina no Grau”, estimulando jovens e adolescentes a aderir a vacinação contra a COVID-19.

O que é política?

Carrossel produzido para o Editorial do Especial Ciência e Política, do Blogs Unicamp: Veja no Instagram: Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por

Também fui convidada a oferecer um minicurso sobre Ilustração Científica para a XXII Jornada Biológica da Universidade Federal do Rio Grande [2.2]. Vale mencionar que, pré-pandemia, eu havia ministrado um workshop de curta duração, chamado Graphical Abstracts: faça você mesmo(a), em 2017 [2.2]; já em 2018, a convite dos professores Caio Costa Oliveira e Rafael Bento da Silva Soares, ofereci a aula Imagens: manual de sobrevivência básico, para as turmas da disciplina eletiva QG 962 – Divulgação científica: públicos e mídias, do Instituto de Química da Unicamp [2.2].

Após a defesa da tese, mesmo com os atrasos causados pela segunda onda da pandemia e a suspensão de diversos serviços públicos, consegui mais uma pequena conquista: meu estúdio de ilustração finalmente ganhou uma pessoa jurídica. Me tornei oficialmente uma microempreendedora [2.3]. Assim, passei a ser ilustradora e designer em tempo integral. Em novembro de 2021 fui premiada pelo conjunto de Obras de Artes Visuais, pela Secretaria Municipal de Cultura de Valinhos, SP – onde residi durante parte da pandemia. Esta premiação ocorreu via Chamamento Público para artistas e profissionais da arte e da cultura, em conformidade com o disposto na Lei Federal 14.017/2020; como contrapartida, participei do II Festival Aldir Blanc da cidade em 2022 [3.1]. 

Eventos

XXII JORNADA BIOLÓGICA FURG | Ilustração científica em 2021

O que é ilustração científica? O que é necessário para comunicação ciência para o público especializado? Quais são os cursos disponíveis no Brasil vinculados a instituições de ensino ou de pesquisa? Essas e outras perguntas são respondidas aqui. Caso tenha alguma dúvida, deixe um comentário!

Resumo

Minhas dicas (potencialmente polêmicas) para quem quer trabalhar com ilustração científica hoje

✨ Aprenda arte digital

A primeira dica é aprender a arte digital. Apesar de todos os cursos de ilustração científica nacionais trabalharem com ilustração analógica (ou seja: aquarela, lápis, grafite, nanquim), eu indico que quem realmente deseja trabalhar com isso aprenda técnicas digitais. A ilustração científica é um tipo de arte necessariamente colaborativa. Quase sempre ela vai exigir correções e retrabalhos – que são muito mais fáceis e muito mais produtivas de fazer se a pessoa que ilustra está trabalhando com arquivos digitais. A arte analógica é muito mais difícil de corrigir, e existe sempre o risco de você perder o seu trabalho ao tentar executar uma correção.

✨ Faça um curso de fundamentos de desenho (fora do contexto da Ilustração Científica)

Ou , em outras palavras: tente aprender os Fundamentos de Desenho fora do ambiente acadêmico. Essa minha dica, na verdade, é uma questão bastante pessoal. Para aprender a desenhar é necessário dominar os fundamentos do desenho:  cores, luz, sombra, perspectiva, anatomia, etc. Os Fundamentos são muito bem desenvolvidos em escolas de desenho que não necessariamente oferecem cursos de ilustração científica. Além do mais, dominar estes fundamentos permite fazer artes muito mais estruturadas. Você ficará menos dependente das técnicas e artifícios de pintura para criar boas ilustrações – e o mais importante: vai ser capaz de resolver problemas na figura de forma muito mais eficiente.

✨ Abra um CNPJ

A terceira dica é  abrir um CNPJ (por exemplo, como MEI*); muitos dos trabalhos que vão aparecer são vinculados a pesquisadores ou a Instituições de ensino e pesquisa. Muitas vezes essas pessoas só vão ter acesso aos recursos financeiros (pra te pagar) mediante emissão da Nota Fiscal do serviço prestado.

* nota: não é , juridicamente, a solução mais adequada. Mas é a solução mais acessível para a maioria dos mortais, pois os custos fiscais de se enquadrar como autônomo são incompatíveis com os ganhos de uma pessoa em início de carreira (de acordo com o artigo 966 do código civil, não podem ser considerados empresários aqueles profissionais que exercem atividade intelectual, científica, literária ou artística). 

✨ Entenda o processo de publicação científica

A quarta dica é: entenda (muito bem) o processo de publicação científica! Trago essa sugestão porque talvez você não tenha tido oportunidade de escrever e publicar artigos científicos (dependendo de seu momento de vida ou formação acadêmica), e talvez você não saiba muito bem como funcionam as etapas de preparação dos manuscritos, até sua efetiva publicação. Existem vários situações que podem envolver correções da nossa arte, e que com o tempo e experiência, se tornam praticamente previsíveis. Também fica mais fácil entender certas demoras e certas urgências. Enfim, ajuda muito você a se planejar e saber o que esperar do seu cliente quando você entende as etapas do processo que o contratante está passando.

✨ Lembre-se que a ilustração científica é um processo colaborativo!

Por último, mas não menos importante, mantenha sempre em mente que a ilustração científica é um processo colaborativo, em que as duas (ou mais) partes contribuem. A pesquisadora que te contrata tem uma informação/dado/conceito que ela conhece muito bem, e precisa ser comunicado em uma linguagem não verbal. Por sua vez, é você quem domina o conhecimento que permite esta transposição de linguagens e as técnicas artísticas! No processo de elaboração de uma figura científica, os autores vão ter novas ideias e perceber furos retóricos que antes não estavam claros. A pessoa ilustradora tem muito a contribuir para uma comunicação científica bem sucedida.

 

 E aí, você discorda ou tem mais dicas que acha que precisavam estar nessa lista? Deixe um comentário 👇🏽

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