A ilustração científica precisa ser realista?

(atualizado em: 28/04/2022)

É fácil reconhecer uma figura anatômica detalhada como uma ilustração científica.

Mas e um desenho “de palitinho”? Por quê não seria?

Quando a ideia de me tornar uma ilustradora científica começou a se tornar um plano palpável, parecia que eu só teria autorização de apresentar ao mundo como tal se fosse capaz de desenhar com fidelidade (e certo virtuosismo) o que estivesse observando.

Confundir desenho de observação com ilustração científica provavelmente é um erro comum de quem é iniciante. Existem convenções e práticas na área que parecem regras, mas na verdade são.. culturais. Ainda mais quando vemos que os núcleos de formação por aqui se focam em técnicas tradicionais de pintura (como aquarela – seca, feita em camadas, ou grafite – realista, com texturas rigorosas obtidas com pontilhismo, hachuras e degradês precisos).

Além disso, quase todo desenhista amador passa pela fase em que acha que saber desenhar é tentar atingir um resultado fotorrealista.

A ilustração científica tem que ser realista?

A ilustração científica (IC) tem como objetivos:

Documentar, extrair e sintetizar a informação sobre um arquétipo, processo ou conceito científico com objetividade, rigor e clareza;
Transmitir conceitos novos, ou colaborar na compreensão dos já existentes.

Alguns requisitos de uma ilustra científica incluem:

Não redundância;
Consistência;
Foco;
Clareza e simplicidade;
Eficácia visual;
Credibilidade.

Percebeu que “descrever tudo nos mínimos detalhes” não faz parte destes requisitos? Inclusive, o excesso de detalhes pode ser uma distração não-intencional para o observador. É difícil criar uma boa composição de uma imagem em que não se tenha um ponto focal claro.

Por sua vez, a ilustração realista é apenas um dos vários estilos de desenho que existem, e busca trazer para o papel uma representação ‘fotográfica’ do que o olho observa. No dia a dia, as possibilidades de estilo e técnica são muito variados e são escolhas do ilustrador e do cliente. Dependem mais de tempo, orçamento e expertise do que de uma exigência específica da natureza da publicação.

E mais importante: o desenho realista não atende aos objetivo da comunicação visual em todas as situações!

Na minha concepção, para fazer uma boa ilustração científica, é muito mais importante saber se comunicar visualmente, do que “saber desenhar” (aqui, leia-se dominar técnicas complexas de desenho e pintura).

É bom lembrar: estamos fazendo, antes de qualquer coisa, comunicação visual!

Se quiser saber mais sobre Ilustração Científica, tem uma matéria ótima que a @luizacaires3 lançou hoje sobre o tema.